No dia em que Jesus fez a recomendação de que os adversários deviam ser perdoados, a multidão dos ouvintes parece ter pasmado diante do programa inédito e contrário a velhas tradições. Como esquecer as ofensas recebidas? Como cancelar, gratuitamente, um débito que nos custou pranto, amargura e padecimento? O envelhecido coração humano, depositário fiel de ódios e vingança, recusou o alimento novo que Cristo trazia aos vazios de espiritualidade.
Muitos, sem dúvida, dos que ouviam aquele estranho procedimento sentimental recomendado por Jesus, confessaram a impossibilidade de perdoar, amando os desafetos. A favor de seus espíritos viciados, militavam séculos de tradição da lei patriarcal, que justificava a represália e induzia ao aborrecimento dos inimigos, nas expressões anti-fraternas do dente por dente e olho por olho! Mas o Messias, naqueles breves instantes, não falou apenas a criaturas escravizadas a um longo processo de vinditas cruéis e recíprocas através das eras. Seu pensamento amoroso apelou, de modo particular, para aquele reduzido número que desejasse verdadeiramente o Reino de Deus, cheio de Paz e Amor. Às almas que já se sentissem cansadas de seguir o caminho inglório do ódio, e aspirassem às alegrias do Amor; aos corações que conheciam toda a tragédia dolorosa, tecida de remorsos e de lágrimas, de viver sem perdoar, a esses ouvintes é que o convite de Jesus Cristo se dirigiu especialmente: AMAI OS VOSSOS INIMIGOS.
É assim que, nos dias que correm, permanece oportuna e singular para muitos homens a advertência do Sábio Amigo. Milhares de criaturas recebem o conselho, mas nem todas, exatamente como há dois mil anos, se comportam com sabedoria diante dele. Para a maioria perversa da Terra, é impraticável perdoar aos que nos prejudicam: na honra, nos haveres, na família, no corpo ou na alma. Para esses, representa covardia inominável silenciar, para cumprimento do preceito evangélico, em face dos ignorantes que continuam a não saber o que fazem nas suas insânias.
Para outros, entretanto, que conhecem as conseqüências danosas de não amar os inimigos, de não esquecer a bofetada recebida, de não perdoar a dívida que o irmão involuido contraiu conosco, para esse pequenino auditório que suspira por uma vida moral e espiritual superior, de maneira que venha a participar das bodas jubilosas da Caná celestial, a melhor resposta para o ódio é o amor, para a maldade é o bem, para a ofensa é o perdão, para o espinho que dilacera é a flor que perfuma…
Jesus, portanto, lembrando a conveniência de amarmos os nossos adversários, não pronunciou uma frase contraditória com o realismo da vida para espanto nosso. Apontou, sim, uma providência prática, a fim de não sofrermos mais. Ele sabe que ofensores e ofendidos, algozes e vítimas, agressores e agredidos transpõem séculos de vidas no planeta algemados uns aos outros, revezando-se nas vinganças e trocando vibrações inferiores, enquanto o Amor não partir os elos que encadeiam as criaturas que se detestam, com a força do Perdão que dissolve sempre todo o mal.
Fonte: extraído do site http://www.omensageiro.com.br/artigos/artigo-184.htm, artigo de Medeiros Corrêa Junior, com base no livro “Em verdade vos digo”.
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