Mahatma Gandhi foi acusado, por seus próprios amigos, de ser incoerente no seu modo de falar e agir. Muitos dos seus amigos desejaram que o chefe tivesse sido mais radical e intransigente.
Gandhi não negou as suas incoerências, mas afirmou que elas estavam a serviço da coerência!
Não ter princípios definidos, mas viver à mercê dos caprichos do momento e das aragens das circunstâncias externas, é próprio dos homens medíocres, dos moluscóides e oportunistas de toda a espécie, dos que só conhecem convenções em vez de convicções.
Por outro lado, o homem de princípios nitidamente definidos: o asceta, o místico, é como um cristal de faces e arestas retilíneas; não declina do caminho da sua consciência, ainda que lhe custe a vida. Mas essa própria fidelidade a si mesmo o torna inadaptável à sociedade profana, com a qual vive em contínuo conflito, e, por isso, prefere abandonar a sociedade e retirar-se à solidão.
Há, todavia, uma classe de homens, raros, na verdade, que têm princípios rigorosamente definidos e guardam absoluta fidelidade a seu Eu divino, mas possuem o estranho carisma de saberem adaptar as suas retilíneas convicções espirituais às curvilíneas convenções da sociedade, às circunstâncias de tempo e lugar, ao ponto de serem facilmente confundidos pelos menos clarividentes com os homens da primeira classe, destituídos de princípios certos e só interessados nos fins dos oportunistas profanos.
O fato de alguém ser invariavelmente fiel a princípios eternos, mas não se aferrar teimosamente a certas formas externas consideradas inseparáveis da essência divina desses princípios – supõe extraordinária força e plasticidade de caráter, bem mais difícil do que a rigidez retilínea do caráter-cristal do asceta, também externamente intransigente.
Não raro, o homem realmente espiritual tem de sacrificar as aparências de espiritualidade a fim de ser fiel à sua espiritualidade. Mas esse sacrifício das aparências para salvar a essência é, quiçá, a melhor medicina profilática contra um possível orgulho espiritual. Um místico, por exemplo, que tem de lidar com negócios e dinheiro, dificilmente é tido por um místico pelos não-místicos; e essa condição de parecer um profano no meio de profanos talvez seja a melhor garantia para ele não ser um profano, mas um verdadeiro iniciado. Para continuar a ser forte, por vezes, é útil parecer fraco aos olhos dos outros. O verdadeiro sábio pode admitir a pecha de parecer tolo, ao passo que o pseudo-sábio, ou semi-sábio, deve evitar cuidadosamente as aparências de tolo, a fim de escorar eficazmente a sua vacilante sapiência.
Vejamos o que o próprio Gandhi disse das suas incoerências.
“Admito que há na minha vida numerosas incoerências. Mas como me chamam mahatma (grande alma), estou disposto a endossar as palavras de Émerson, de que a tola coerência é o cavalo de batalha dos espíritos medíocres”.
“Acho que vai certo método através das minhas incoerências. Creio que há uma coerência que passa por todas as minhas aparentes incoerências – assim como há na natureza uma unidade que permeia todas as aparentes diversidades”.
“Amigos meus que me conhecem têm verificado que eu tenho tanto de um homem moderado quanto de um extremista, que eu sou tão conservador como revolucionário. Assim se explica, talvez, a minha boa sorte de ter amigos entre esses tipos extremos de homens”.
“A minha incoerência é meramente aparente, devido à atitude que tomo em face de circunstâncias várias”.
“Recuso-me a ser escravo de precedentes ou praticar algo que não compreenda nem possa defender com base moral. Não sacrifiquei princípio algum a fim de conseguir alguma vantagem política.”
“Nunca fiz da coerência um fetiche. Sou um adepto da Verdade, e tenho de dizer o que sinto e penso, em dado momento, sobre isto ou aquilo, independente do que tenha dito anteriormente sobre o assunto… Na medida em que a minha visão se vai tornando mais clara, meus pontos de vista se esclarecem com a prática diária. Quando modifico deliberadamente a minha opinião, as conseqüências são inevitáveis. Mas somente um olhar apurado é capaz de verificar nisto uma evolução gradual e imperceptível”.
“Não estou absolutamente interessado em parecer coerente. No meu caminho em busca da Verdade, tenho abandonado muitas idéias e tenho aprendido muitas coisas novas. Velho como sou de corpo, não tenho a consciência de ter cessado de crescer interiormente, ou que o meu crescimento vá estagnar com a dissolução da minha carne. O que me interessa é a minha atitude de prontidão em obedecer ao chamamento da Verdade, o meu Deus, de momento a momento.”
“Há princípios eternos que não admitem compromisso, e o homem deve estar disposto a sacrificar a sua vida para obedecer a esses princípios.”
Fonte: extraído do livro “Mahatma Gandhi”, de Huberto Rohden – Editora Martin Claret.
PENSO QUE DEVEMOS FALAR A VERDADE,E O QUE PENSAMOS POIS ASSIM SEREMOS AUTENTICOS ,EMBORA AS PESSOAS FINJAM SER COERENTES QUANDO NA VERDADE ESTAO MENTINDO.
O espírito e o pensamento do Gandhi mostram uma grandeza pouco usual na humanidade…