A reencarnação, Doutrina Espírita

Laços de família

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Os pais transmitem aos filhos uma porção de sua alma ou limita-se a dar-lhes a vida animal a que uma nova alma, mais tarde, vem acrescentar a vida moral?

– Dão-lhe apenas a vida animal, porque a alma é indivisível. Um pai estúpido pode ter filhos inteligentes e vice-versa.

Uma vez que tivemos diversas existências, o parentesco pode recuar além de nossa existência atual?

– Não pode ser de outra forma. A sucessão das existências corporais estabelece entre os Espíritos laços que remontam às existências anteriores. Daí muitas vezes decorre as causas de simpatia entre vós e alguns Espíritos que vos parecem estranhos.

Por que, aos olhos de certas pessoas, a doutrina da reencarnação se apresenta como destruidora dos laços de família por fazê-los recuar às existências anteriores?

– Ela não os destrói. Ela os amplia. O parentesco, estando fundado em afeições anteriores, faz com que os laços que unem os membros de uma mesma família sejam mais vigorosos. Essa doutrina amplia também os deveres da fraternidade, uma vez que, entre os vossos vizinhos, ou entre os servidores, pode-se encontrar um Espírito que esteve ligado a vós pelos laços de sangue.

Ela diminui, entretanto, a importância que alguns atribuem à sua genealogia, uma vez que se pode ter tido por pai um Espírito que pertenceu a outra raça, ou tendo vindo de uma condição bem diversa?

– É verdade, mas essa importância está fundada no orgulho. O que essas pessoas honram em seus ancestrais são os títulos, a posição, a fortuna. Alguém que coraria de vergonha por ter tido como antepassado um honesto sapateiro se gabaria de descender de um nobre corrupto e debochado. Mas o que quer que eles digam ou façam, não impedirão as coisas de ser o que são, porque Deus não formulou as leis da natureza de acordo com a vaidade deles.

Do fato de não haver ligações de filiação entre os Espíritos de descendentes da mesma família, segue-se que o culto aos ancestrais seja uma coisa ridícula?

– Certamente que não. Todo homem deve considerar-se feliz por pertencer a uma família em que encarnam Espíritos elevados. Embora os Espíritos não procedam uns dos outros, têm afeição aos que lhe estão ligados pelos laços de família, porque esses Espíritos são freqüentemente atraídos a esta ou àquela família em razão de simpatias ou ligações anteriores. Mas, ficai certos: os Espíritos de vossos ancestrais não se sentem honrados pelo culto que vós lhes ofereceis por orgulho. O valor dos méritos que tiveram só se refletirão sobre vós pelo esforço que fizerdes em seguir-lhes os bons exemplos, e, só assim, então, vossa lembrança pode lhes ser agradável e útil.

Texto extraído do livro “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec.

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