Provavelmente, nenhum filósofo influenciou tanto o pensamento chinês quanto Confúcio. Sua visão de mundo acabou se estabelecendo como o conceito que dirigiu a burocracia chinesa por mais de 20 séculos. Confúcio dizia que não ensinava nada de novo, apenas recomendava a observação dos costumes ancestrais. E, apesar do rigor moral desse homem e do prestígio que ele conquistou ainda em vida.
Confúcio nunca conseguiu um cargo público de importância que o permitisse pôr suas teorias em prática. Na verdade, quem aplicou seus ensinamentos e os perpetuou foram seus discípulos.
Confúcio – a forma latinizada de Kong Fu’tzi, ou Mestre Kong – nasceu em 551 a.c., na cidade-estado de Lu, uma região que hoje faz parte da China, numa época de guerra e destruição. Embora tenha ficado órfão muito cedo e aprendido ofícios humildes, Confúcio foi educado como um cavalheiro. Desde cedo, passava seu tempo praticando a arquearia e a pesca com anzol.
No entanto, tinha apenas duas verdadeiras paixões. Uma delas era a música. Há uma história lendária sobre a dedicação de Confúcio à música. Dizem que, certa vez, ele ficou tão absorvido pelos sons, que passou três meses inteiros sem tocar em nenhum alimento. Sua outra paixão era aprender. Estudou os clássicos da sua cultura, história, poesia, leis e, principalmente, o “Livro das Mutações’; ou I-Ching.
Durante praticamente toda sua vida, Confúcio foi um educador – provavelmente o primeiro professor profissional da China. Entretanto, ele ambicionava uma posição na corte, onde poderia transformar suas idéias em realidade. Mas foi só quando tinha 50 anos que recebeu uma nomeação para um cargo no governo. Na sua gestão, aconselhou o regente Ji Kang-zi a ser piedoso com os pais e gentil com os filhos, a promover quem tinha valor e a treinar os incompetentes. Apesar de essa política não parecer nada revolucíonária hoje em dia, na época era uma reviravolta.
Confúcio enfatizava a educação e a habilidade, em vez de hereditariedade. Essa valorização da capacidade sobre a hereditariedade marcou profundamente a estrutura administrativa chinesa nos séculos seguintes. A classe de administradores, os mandarins, que controlavam o vasto império chinês, era submetida a um rigoroso exame de admissão no governo. Qualquer um podia prestar o concurso, independentemente de classe ou origem. No entanto, por causa da complexidade do teste de admissão, quase sempre eram os filhos das famílias mais ricas, os quais tinham tempo e recursos para se prepararem, que conquistavam esses cargos.
Até onde se sabe, Confúcio editou um Livro de Odes, “Os Anais da Primavera e do Outono”, revisou textos cerimoniais e musicais, além de ter escrito comentários ao I-Ching. Mas ele não escreveu nada sobre seus pensamentos. Foram seus discípulos que preservaram seus ensinamentos.
Os Analectos
A principal fonte dos ensinamentos do Mestre Kong é os “Analectos’; Lun Yu, em chinês, uma coleção de textos que descreve as lições de Confúcio aos seus discípulos. Por meio destes relatos, escritos por seus seguidores, podemos saber não só o que Kong Fu’tzi ensinava, mas também conhecer sua metodologia e suas maneiras. Confúcio é descrito como um professor que não tinha opiniões impensadas, dogmatismo, nem era obstinado e egoísta. Seus modos eram afáveis, porém firmes. Os autores dos Analectos contam que ele impunha autoridade sem ser ríspido, ao mesmo tempo em que era cordial e tranqüilo.
Dizem, também, que Confúcio tinha um grande senso de humor e, ao contrário de muitos mestres, não se importava em ser corrigido pelos discípulos. Ele foi também um dos primeiros humanistas de que se tem notícia. Reconhecia o livre arbítrio dos indivíduos e ensinava: “o comandante do maior exército pode ser removido, mas a vontade da pessoa mais simples não pode ser modificada’: Ele sustentava que a natureza das pessoas é semelhante, mas as experiências da vida as tornam diferentes umas das outras. “Essa característica pessoal devia ser identificada e respeitada”, ensinava o mestre.
O Mestre Kong também falava do Caminho, ou Tao, que permeía a todas as coisas e as conduz à sua grandiosidade inerente. No entanto, Confúcio dizia que eram os humanos que faziam o Tao ser grande, e não o Tao que fazia os humanos grandes. O respeito pelos pais e o cultivo da virtude eram seus mais importantes preceitos. Ele dizia que poderia até mesmo viver entre os bárbaros, pois a virtude nunca está só e sempre traz bons vizinhos.
Confúcio acreditava que sua missão era transmitir a cultura que tinha absorvido, tornando, dessa forma, o mundo mais virtuoso. Ele não via a si mesmo como um asceta, nem mesmo como um homem extremamente virtuoso. Em lugar disso, louvava sua paixão pelo aprendizado e sua infinita paciência para ensinar. Confúcio morreu em 479 a.c., aos 72 anos, cercado pelos seus discipulos, cuja fidelidade ele conquistara com modéstia e honestidade.
Fonte: texto extraído da Revista das Religiões, editado no site www.comunidadeespirita.com.br
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