Houve outrora na Índia uma mulher muito ranzinza. Chamava-se Kalaha, que significa “briguenta” no idioma bengali. A senhorita Kalaha batia boca com todo mundo ao menor pretexto e nunca praticava uma boa ação.
Correram os dias e Kalaha foi ficando cada vez pior. Finalmente o Anjo da Morte visitou-a. Seu corpo astral começou a descer a melancólica escada em espiral que conduz às regiões profundas das trevas infernais. Desabou pesadamente no solo sulforoso do Hades. Tomada de agonia e medo, implorou misericórdia ao ver que o Anjo da Morte a abandonava naquele lugar pavoroso, onde as sombras ímpias vivem em tortura e desespero.
Ora, impressionado com o pranto e a barulheira que a mulher ruim fazia, Yama (o Anjo da Morte) resolveu voltar e interpelou-a: “Por favor, não pode se lembrar de nenhuma boa ação que praticou durante sua existência terrena? Assim talvez eu consiga tirá-la deste lugar medonho, aonde você veio em conseqüência dos erros voluntários que cometeu.”
A mulher coçou a cabeça por algum tempo e, após longa reflexão, gritou: “Oh sim, Majestade, lembro-me de uma boa ação que pratiquei. Certa vez estava com um maço de cenouras na mão e ia comê-las quando notei que uma delas se alojava um verme. Assim, dei-a a outra pessoa, sugerindo que comesse a parte boa e jogasse fora o resto, sem matar o bichinho.”
“Isso basta”, sentenciou Yama. Acenou com a mão e a tal cenoura apareceu voando na direção da pecadora. Yama prosseguiu: “Alma danada, agarre esta cenoura e dependure-se nela. Não fraqueje e será conduzida ao paraíso.”
A mulher agarrou avidamente a cenoura e começou a subir ao céu. Vendo isso, outro pecador segurou-se à sua perna; outro se segurou à perna dele, um terceiro à perna do segundo e assim por diante, até que uma cadeia de cem pecadores ficou suspensa da perna da mulher ruim. A cenoura mágica, carregando a mulher e os outros cem pecadores, disparou para o céu como um foguete.
A mulher estava contentíssima por ter tão facilmente escapado das mãos da justiça do além. Mas então sentiu um abalo no coração, olhou para baixo e viu que toda aquela fileira de pecadores subia ao céu com ela. A idéia de que estavam se beneficiando da carona a enfureceu. Não tolerava que alguém mais captasse a favor do Anjo da Morte. Furiosa, esbravejou: “Pecadores sem mérito, soltem já o meu pé! Como ousam voar para o céu em minha cenoura encantada?”
Mas, ao derrubar a pontapés os outros pecadores, ela própria se soltou da cenoura. Assim, todos despencaram pelo espaço e foram se esborrachar no chão do Hades.
Moral da história:
Mesmo um pequenino ato de bondade pode se transformar numa prancha de salvação para cruzar o traiçoeiro golfo do pecado; mas quem bebe o vinho do egoísmo e se sacoleja no barquinho do desdém pelo próximo, afunda no oceano da ignorância. A felicidade egoísta, que não tolera o bem-estar alheio, logo se transforma em sofrimento.
Fonte: extraído do livro “Karma e Reencarnação”, de Paramhansa Yogananda. Editora Pensamento.
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