Ter compaixão é possuir um entendimento maior das fragilidades humanas. É quando nos tornamos mais realistas, menos exigentes e mais flexíveis com as dificuldades alheias.
Compaixão – manifestação de um coração aberto.
“Há mais felicidade em dar que em receber”. De bem-aventurado vem a palavra beato – do latim beatus, que significa “feliz”. Beatificar alguém é declará-lo na plenitude da felicidade; por isso é que chamamos comumente de venturosas as pessoas felizes.
Cristo usava com frequência essa forma literária em seus discursos: “Bem-aventurados são aqueles que…”. Essas bem-aventuranças eram e são a fórmula que o Mestre Jesus recomendava para conquistar a verdadeira felicidade ou para alcançar uma vida plena.
Ter compaixão é possuir um entendimento maior das fragilidades humanas. É quando nos tornamos mais realistas, menos exigentes e mais flexíveis com as dificuldades alheias.
Se quisermos a paz do mundo, sejamos pessoas felizes. O bem-aventurado é um agente da paz, pois as criaturas maduras possuem uma compassiva “noção de vida”.
Ao abrirmos o coração para alguém, vivenciamos uma forma de empatia – sentimos o que ele sentiria caso estivéssemos vivenciando a sua situação. Isso é uma questão de ressonância. Só podemos apoiar e cooperar se nossos estados interiores forem sensibilizados; apenas podemos compartilhar a alegria ou a tristeza de alguém se elas também nos tocarem. Se não nos permitimos sentir medo, amor, tristeza ou alegria, não podemos reagir a esses sentimentos diante das pessoas e podemos até duvidar de que elas os estejam experimentando.
Compaixão está associado a empatia. Perde o bom senso quem não estabelece limites nos bens que vai dar ou receber. Alguns de nós fazemos favores ou concedemos benefícios aos outros sem critério ou fundamentação alguma.
No entanto, empatia não é medir ou julgar alguém por nós. Não é nos colocarmos no lugar da criatura e ficarmos ilusoriamente imaginando seu sofrimento. Empatia é o contato direto do nosso coração com o coração de outro ser humano.
A ajuda verdadeiramente sapiencial é aquela que permite que as pessoas à nossa volta aprendam a se desenvolver, solucionando suas dificuldades por si mesmas.
O ser compassivo não invade a vida alheia. Os indivíduos só mudam quando estão prontos para mudar.
Algumas religiões podem distorcer nossa concepção de mundo, utilizando a culpa ou o fanatismo como forma de nos controlar ou de nos forçar a doar coisas. A viseira do emocionalismo pode nos levar à frustração e ao desapontamento. Podemos ser coagidos a conceder benefícios ou participar de doações materiais, usando uma forma distorcida de compaixão. Muitos de nós nos doamos porque esperamos receber em troca atenção e respeito de outras pessoas. Isso não é ajuda real nem mesmo está unido ao amor; mais se assemelha a uma forma de barganha, seguida de eternas cobranças.
Para que possamos cooperar efetivamente com alguém, é preciso abrirmos mão de nossa arrogância salvacionista, a de acreditar que a redenção das almas que amamos depende, única e exclusivamente, de nosso desempenho e de nossa dedicação. Cada pessoa é uma obra-prima de Deus e, quando subestimamos a força divina que há no outro, nossos relacionamentos ficam anêmicos e áridos. A compaixão salvaguarda a liberdade de sentir, pensar e agir.
Os bem-aventurados aos quais se referia Jesus são felizes porque reconheceram que não devem viver de forma ególotra; devem viver, sim, uma existência de auxílio a si mesmos e ao bem comum. Compaixão é o desenvolvimento do sentimento de fraternidade que move o ser fraterno a ter uma noção ética com vistas à integração e à solidariedade entre as pessoas.
Fonte: extraído do livro “Os prazeres da alma”, de Francisco do Espírito Santo Neto, ditado por Hammed. Editora Boa Nova.
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