“Minha gente, eu sempre tive um carinho muito especial por velhos. Sabem disso, né? Eu me lembro que quando eu era criança, eu ficava encantado, vendo lá em Formiga – na cidade que eu nasci; os velhinhos que ficavam lá na praça jogando cartas, conversando fiado… Eu ficava olhando e pensando: meu Deus do céu, quando eu crescer quer ser aposentado. É verdade!
Acho que o primeiro projeto que tive na vida foi ser aposentado. A velhice nos traz direitos maravilhosos, né? Fico pensando no tanto que a juventude é cheia de obrigações. Semana passada mesmo, eu estava pensando… Gente, como é difícil você ser jovem e ter o direito de se cansar, né? O velho não. Ele pode ficar cansado a hora que quiser, pode deitar na hora que quiser, pode dormir a hora que quiser; o máximo que vai ter é alguém batendo nas costas dele: “não, não liga não. Mamãe tá velha”… A gente tem uma agenda tão pesada que muitas vezes não tem nem o direito de adoecer, né?
E a velhice, esse tempo que a gente tem o direito de viver essa doce inutilidade. Porque, por mais que a gente se torne um velhinho esperto, né?… Tem uns aí… Muito espertos… Aquele amigo seu, né? Que não aceita que envelheceu…Tem esse tipinho! Por mais que a gente não aceite. Por mais que a gente seja um velhinho animado, esperto. A gente não tem como fugir disso. Mais cedo ou mais tarde na vida, a gente tem que experimentar esse território desconcertante da inutilidade. Eu sei que a palavra é pesada, mas esse é o movimento natural da vida.
Perder a juventude de alguma maneira, é você também perder a sua utilidade. É consequência natural da idade que chega. Quando o tempo sopra sobre nós essa poeira, né? Quando a gente vai perdendo as habilidades e as destrezas da juventude, a gente experimenta essa inutilidade que a velhice proporciona. Mas veja pelo lado bom, porque a gente tem que ser otimista; a utilidade é uma coisa muito cansativa.
Você ter utilidade pra alguém é uma coisa muito cansativa. Tá certo, realiza. Humanamente falando é interessante você saber fazer as coisas, mas eu acredito que a utilidade é um território muito perigoso, porque muitas vezes a gente acha que o outro gosta da gente, mas não. Ele tá interessado naquilo que a gente faz por ele. E é por isso que a velhice é esse tempo que passa a utilidade e aí fica só o seu significado como pessoa. Eu acho que é um momento que a gente purifica, né? É o momento em que a gente vai ter a oportunidade de saber quem nos ama de verdade. Porque só nos ama, só vai ficar até o fim, aquele que depois da nossa utilidade, descobrir o nosso significado.
Por isso eu sempre peço a Deus, sabe? Sempre faço à Ele, a oração D’Ele. Poder envelhecer ao lado das pessoas que me amem. Aquelas pessoas que possam me proporcionar a tranquilidade, né.. De ser inútil, mas ao mesmo tempo, sem perder o valor. Quando eu viver aquela fase na vida: põe o Pe. Fábio no sol… Tira o Pe. Fábio do sol… Aí eu peço à Deus sempre a graça de ter quem me coloque ao sol, mas sobretudo, alguém que venha me tirar depois. Alguém que saiba acolher a minha inutilidade. Alguém que olhe pra mim assim, que sabe / que possa saber que eu não sirvo pra muita coisa, mas que eu continuo tendo meu valor.
Porque a vida é assim, minha gente, fique esperto, viu? Se você quiser saber se o outro te ama de verdade, é só identificar se ele seria capaz de tolerar a sua inutilidade. Quer saber se você ama alguém? pergunte a si mesmo: quem nessa vida já pode ficar inútil pra você, sem que você sinta o desejo de jogá-lo fora? É assim que descobrimos o significado do amor. Só o amor nos dá condições de cuidar do outro até o fim. Por isso eu digo: feliz aquele que tem ao final da vida, a graça de ser olhado nos olhos e ouvir a fala que diz: você não serve pra nada, mas eu não sei viver sem você.”
Pe. Fábio de Mello
Se preferir, assista esta história completa através do vídeo “A liturgia do tempo”. Veja:
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