Kalama Sutta12
Certa vez, Gautama Buda visitou uma pequena vila chamada Kesa-putra, no reino de Kosala, cujos habitantes se chamavam Kalamas. Eles fizeram a seguinte pergunta ao Buda:
“Senhor, alguns anacoretas e brâmanes que passaram por nossa vila divulgaram e exaltaram suas próprias doutrinas e condenaram e desprezaram as doutrinas dos outros. Depois, passaram outros que também, por sua vez, divulgaram e exaltaram as suas doutrinas e também condenaram e desprezaram as doutrinas dos outros. Mas nós, Senhor, estamos sempre em duvida e perplexos, sem saber qual desses veneráveis expôs a verdade e qual deles mentiu.”
Então o Buda respondeu: “Sim, é justa a dúvida que sentis, pois ela se originou de um assunto duvidoso. Agora prestem atenção: não vos deixeis guiar pelas palavras dos outros, nem por tradições existentes, nem por rumores. Não vos deixeis guiar pela autoridade dos textos religiosos, nem por simples lógica ou dedução, nem por aparências, nem pelo prazer da especulação sobre opiniões, nem por verossimilhanças possíveis, nem por simples impressão ou pela idéia: ‘Ele nosso mestre.’ Mas, Kalamas, desde que souberdes e sentirdes, por vós mesmos, que certas coisas são desfavoráveis, falsas e ruins, então renunciai a elas… e quando souberdes e sentirdes, por vós mesmos, que certas coisas são favoráveis e boas, então deveis aceitá-las e segui-las.”
Respondendo aos bhikkhus (monges) disse: “Um discípulo deve examinar a questão mesmo quando o Tathagata (o próprio Buda) a propõe, pois o discípulo deve estar inteiramente convencido do valor real do seu ensinamento. Não acreditem no que o mestre diz simplesmente por respeito à personalidade dele.” (Anguttara-Nikaya III, 65.)
Asoka, imperador da Índia no III século a C., seguindo o nobre exemplo de tolerância e compreensão de Gautama Buda, honrou e sustentou todas as religiões do seu vasto império. Hoje ainda é legível a inscrição original de um de seus editos gravados na rocha: “Não devemos honrar somente nossa religião, condenando as outras; devemos acima de tudo respeitar todas as crenças, pois sempre há algo a ser apreciado por esta ou aquela razão. Agindo desta forma, glorificamos nossa própria crença e prestamos serviço as demais. De outro modo, prejudicamos a nossa própria religião e fazemos mal à dos outros. Por conseguinte, que todos escutem e estejam dispostos a não se fecharem às doutrinas professadas pelos demais.”
Esse espírito de mútua compreensão deveria ser aplicado não somente em matéria de doutrina religiosa, mas também em assuntos nacionais, políticos, sociais e econômicos.
O Budismo se apresenta sob a forma e um sistema psicológico, moral e filosófico baseado na raiz dos fatos, que podem ser testados e verificados pela experiência pessoal, pois é racional e pratico, isento de doutrinas esotéricas (ocultas).
O espírito de tolerância e compreensão foi sempre um dos ideais da cultura e civilização budista. A seu crédito deve ser dito que, durante um período pacífico de 2500 anos, nenhuma gota de sangue foi derramada em nome do Budismo e nenhuma conversão jamais foi feita quer pela força, ou por qualquer outro método de repressão.
Do livro Budismo – Psicologia do autoconhecimento
Fonte: texto extraído do site “As Mais Belas Histórias Budistas – http://www.maisbelashistoriasbudistas.com”
e-mail: contato@maisbelashistoriasbudistas.com
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