O Papa Francisco tem se notabilizado pela coragem e firmeza em seus pronunciamentos.
A ele tem cabido, como líder de uma das maiores instituições religiosas do planeta, a dura missão de corrigir o rumo do Catolicismo diante dos desmandos e desvirtuamentos perpetrados pelos seus prelados ao longo das últimas décadas e do distanciamento dos ensinamentos de Jesus Cristo.
O seu pontificado tem sido notável por apontar com clareza meridiana as fraturas morais praticadas pela sua instituição num autêntico processo catártico.
Recentemente, o Papa Francisco apresentou, num encontro religioso comemorativo do Natal, todos os males que, a seu ver, estavam contaminando a religião Católica.
Não pretendemos nos deter nos pormenores da sua alocução, pois cada religião tem os seus problemas e deficiências, mas nos ater a um aspecto que, em nosso entendimento, tem alcance ainda maior do que o por ele proposto.
Ou seja, trata-se do “Alzheimer espiritual” como ele próprio denominou.
Explicando melhor, o Papa referiu-se a essa metáfora como resultado do esquecimento por parte dos sofredores dos seus respectivos encontros com Deus.
Em nossa visão, a metáfora aí empregada comporta outros raciocínios e conjecturas que, de certa maneira, envolvem toda a humanidade.
Não há como negar que temos sido um tanto descuidados, para usar um eufemismo, com o elevado conteúdo proveniente da mensagem do Cristo de Deus.
Se considerarmos que a encarnação em si já é uma dádiva extraordinária concedida pelo mais alto, então a maioria de nós está em débito.
Apenas por essa razão, afinal, já deveríamos agradecer todos os dias de nossa vida.
Por outro lado, o nosso Alzheimer espiritual não nos permite enxergar que tudo que vem do Cristo é simples e objetivo.
No seu evangelho encontramos, a propósito, os salutares remédios para todos os males da humanidade.
Mas mesmo assim continuamos em nossa sanha autodestrutiva e inconsequente.
Simplesmente, não conseguimos ainda nos amoldar aos seus ensinamentos e recomendações.
Uma das mais expressivas demonstrações do nosso Alzheimer espiritual decorre do fato de que, no geral, vivemos manifestados a uma vida consumista onde o ter é um imperativo.
Em consequência, pouco ou nada desenvolvemos no que concerne ao ser.
Em razão dessa dificuldade de interpretação, acorremos aos consultórios de psicólogos, terapeutas, orientadores e quejandos, buscando soluções para toda a sorte de problemas existenciais quando a cura está, muitas vezes, em nós mesmos.
Ou seja, em criarmos vontade e disposição de nos autoconhecermos como, de fato, somos.
Com efeito, quem costuma olhar para o interior da sua alma sabe perfeitamente o que precisa melhorar.
O nosso Alzheimer espiritual nos impede de aceitar a realidade de que os sofrimentos, as adversidades e os contratempos são elementos normais do caminho redentor, não a ira de Deus sobre nós.
O nosso Alzheimer espiritual nos leva a desejar aquilo que já contribuiu para a nossa queda em outros tempos.
A pura e humilde aceitação da pobreza como condição reabilitadora, por exemplo, poderia contribuir para a recuperação espiritual de muitos que invadem as propriedades privadas no século presente tentando obter à força o que não lhes pertence.
O Alzheimer espiritual pode nos levar a uma situação provisória de sustentação do poder e, por extensão, ao perigo de sucumbirmos ao seu fascínio.
Nesse sentido, não chega a ser surpreendente observarmos empresários e executivos de grandes organizações presos por atos de corrupção, assim como certos políticos que assumiram a responsabilidade de defender os interesses dos eleitores que os elegeram.
O Alzheimer espiritual afeta todos aqueles que comercializam dons mediúnicos que gratuitamente receberam – como vemos muitos hoje em dia, os quais deverão prestar contas dos seus atos mais dia menos dia à espiritualidade.
O Alzheimer espiritual também abarca aqueles que assumiram o compromisso/missão de realizar tarefas em benefício da humanidade, mas que ao longo da caminhada terrena se perderam.
O Alzheimer espiritual afeta igualmente os que negligenciam o desenvolvimento de sua própria espiritualidade, isto é, aqueles que arrumam tempo para tudo, exceto para a meditação, a oração, a leitura edificante, ou para o encontro com o Deus interior.
Como bem pondera o Espírito Joanna de Ângelis, “… a existência física é uma experiência de iluminação e não uma pousada para o prazer infinito”.
O Alzheimer espiritual domina aqueles que se enxergam como o centro do mundo e que desrespeitam e maltratam os seus semelhantes.
O Alzheimer espiritual atinge os que ainda são incapazes de sequer cogitar se há vida após a morte ou que tem medo de encará-la.
O Alzheimer espiritual acomete os que vivem uma existência rala de valores universais, sem propósitos superiores e práticas voltadas ao bem.
Em suma, o Alzheimer espiritual perpassa basicamente aquela porção da humanidade que ainda não entendeu o significado da vida e que não percebeu que Jesus é o caminho e a verdade a ser assimilada.
Fonte: Texto de Anselmo Ferreira Vasconcelos, publicado na Revista Espírita “O Consolador”.
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