Na época de Jesus Cristo, os fariseus – elite religiosa judaica, que vivia na estrita observância das escrituras mosaicas e da tradição oral – e da mesma forma, no tempo de Buda, os brâmanes – sacerdotes que consolidaram sua hegemonia social juntamente com o sistema de castas -, tanto uns como outros foram acusados de formalistas e hipócritas. Eram reconhecidos por suas ricas e pomposas vestimentas e por não viverem de acordo com o que pregavam.
Todas as almas veneráveis da humanidade possuíam e possuem plena consciência de que falar de humildade não torna ninguém humilde. Realmente, a humildade nada tem a ver com a presença ou ausência de bens materiais, mas com a forma de comportamento íntimo.
Na atualidade, ainda se associa humildade com inferioridade, submissão e pobreza; no entanto, ela está relacionada com distinção, gentileza, lucidez, graciosidade e simplicidade. Entre todas as virtudes, somente a humildade não realça a si mesma, porque o verdadeiro humilde não acredita que o seja.
O humilde examina e pondera o orgulhoso porque um dia também o foi; o arrogante, porém, como ainda não conquistou a humildade, não sabe apreciar e valorizar a simplicidade. Aliás, só quem tem plena consciência do seu valor pessoal é que não precisa se exaltar; quem não tem exibe, de maneira ousada e insolente, sua capacidade, poder, prestígio ou cultura.
Os indivíduos humildes realçam a simplicidade das coisas, dada a facilidade surpreendente de apreender e organizar os dados de uma situação. Eles penetram na essência das coisas, pois desenvolveram a habilidade de “fazer a mente silenciar”. É no “silêncio mental” que os ciclos habituais ou condicionados das regras e normas preconceituosas cessam, que os padrões de pensamentos inadequados são interrompidos, para que haja a internalização da inteligência universal em nós.
Em algumas correntes do budismo, há uma equivocada interpretação do nirvana. Elas tomam como verdade a crença de que a meta espiritual do homem é alcançar um estado de completa quietude, que o levará à supressão do desejo e da consciência individual. Na realidade, o termo nirvana, quando entendido em sua significação mais profunda, deve ser traduzido como “a união definitiva da criatura com o Criador”, nunca como sinônimo de estático silêncio interior, onde impera o “não-ser”.
Os humildes aprenderam, com a introspecção, afazer de si mesmos um “canal ou espaço transcendente”, por onde flui silenciosamente a inteligência universal.
Quando o eminente educador Allan Kardec questiona os Espíritos Superiores: “Qual a fonte da inteligência?”, eles respondem: “Já o dissemos: a inteligência universal”.
A inteligência Universal é o instrumento pelo qual retomamos a conexão com a Causa Primeira. Ela não está confinada a nenhuma religião; ao contrário, é acessível a todos os seres, contudo só se deixa penetrar por aqueles que têm “simplicidade de coração e humildade de espírito”. Por meio de seus recursos infinitos, recebemos as mais sublimes contribuições – psicológicas, filosóficas, artísticas, científicas, religiosas -, alargando a compreensão da vida dentro e fora de nós mesmos.
Fonte: extraído do livro “Os prazeres da Alma”, de Francisco do Espírito Santo Neto, pelo espírito Hammed. Editora Boa Nova.
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